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Copa de Basquete
7 de setembro de 2023 - 16h09

Brasil dá esperança de voltar a competir em alto nível mundial no basquete

Com boa preparação e bom desempenho na Copa do Mundo, Brasil mostra que tem capacidade de competir em nível internacional

Yago tem atuação decisiva em vitória do Brasil sobre o CanadáO Brasil se despediu da Copa do Mundo de Basquete 2023 no último domingo (3), depois de uma derrota por 104 a 84 para a Letônia no último jogo da segunda fase da competição. Apesar da eliminação, a participação da seleção brasileira no principal torneio de nações, ao lado das Olimpíadas, tem que ser comemorada, afinal, a equipe mostrou em seus jogos, condições de competir no mesmo nível dos grandes times do mundo.

A grande performance da seleção no mundial vem de julho, na verdade, quando a CBB divulgou os 16 nomes que iriam começar a treinar em São Paulo, antes dos amistosos preparatórios. Até o início do mundial, o Brasil bateu Sudão do Sul (85 a 75), Venezuela (83 a 71) e teve na vitória sobre a Austrália (90 a 86), a grande validação sobre a capacidade que o elenco tinha para disputar no difícil caminho que teria no mundial. Próximo ao início da competição, os brasileiros ainda enfrentaram Itália (87 a 93) e Sérvia (85 a 89) e, apesar das derrotas, mostraram que realmente estavam no meio das várias seleções de alto e parecido nível.

Antes do início do torneio, a FIBA lançou o Power Ranking de entrada das seleções e colocou o Brasil em 11º, à frente de seleções como as tradicionais Grécia e Lituânia, ilustrando a potencialidade do elenco e o otimismo sobre o trabalho que estava sendo bem feito.

No torneio, a equipe brasileira venceu o Irã (100 a 59), teve uma “esperada” derrota para a Espanha (78 a 96) e fechou a primeira fase com vitória sobre a Costa do Marfim (89 a 77), classificando-se em segundo para a fase de grupos seguinte. Ali, o ponto alto da campanha brasileira: vitória sobre o Canadá (69 a 65), superando a melhor defesa do torneio e limitando um ataque de 108 pontos a míseros 65, e a esperança de figurar entre os oito melhores do mundo na última rodada, dependendo somente de si. Aí que morou o perigo. Jogando contra a sensação da Copa, a Letônia, o Brasil perdeu por 20 pontos e deixou um gosto amargo na boca, mas pelo fato que era possível um jogo mais disputado.

Sem avançar, o Brasil não conseguiu uma vaga direta para as Olimpíadas de 2024 (as duas vagas das Américas ficaram com EUA e Canadá) e agora será uma das 24 seleções atrás de quatro vagas através do Pré-Olímpico mundial, a ser disputado em meados do ano que vem.

Muitas boas coisas foram observadas neste curto ciclo de preparação do técnico Gustavo de Conti. Jogando um basquete ofensivamente coletivo, paciente com a bola em boa parte do tempo e conseguindo extrair o melhor dos jogadores, o Brasil fez um jogo característico histórico do país e tentou se aproximar dos padrões europeus de jogo, obtendo sucesso contra equipes recheadas de jogadores da NBA, como a Austrália e o Canadá. Defensivamente, a seleção também esteve bem em tentar conduzir os ritmos do jogo, alternando estratégias, sempre com preferência à zona, e as executando da melhor maneira possível. Muitos jogadores foram bem, mas há de se destacar os mais jovens.Gustavinho define os 12 do elenco do Brasil para Copa do Mundo

Difícil bater o martelo sobre o grande destaque individual do Brasil, mas o ala-pivô Bruno Caboclo certamente está na conversa. Campeão do campeonato alemão com o Ulm, o novo jogador do Reyer Venezia, foi o líder do Brasil em pontos (16,4) e rebotes (9,2) na competição, se mostrando uma grande ameaça ofensiva perto do aro e um temido protetor de aro. Seu desempenho cravou que ele é definitivamente um jogador de EuroLiga e não mais de EuroCup, como é sua atual realidade de clubes.

Companheiro de Caboclo no Ulm e MVP das finais do alemão, Yago lembrou sua parceria com o ala-pivô e foi uma dupla empolgante com ele. Líder de assistências da seleção (7,2) e quinto do mundial, o armador mostrou porque o Estrela Vermelha, potência europeia, resolveu contratá-lo. Yago apresentou sua grande capacidade de controlar o ritmo de jogo ofensivo, sua visão de jogo, suas tomadas de decisão e seu grande poder decisivo em jogos grandes, algo que mostra há um tempo e também o fez no melhor jogo da seleção, contra o Canadá.

Além dos dois destaques mais óbvios, faz-se necessário destacar pelo menos mais um nome, esse, até antes do torneio, mais desconhecido. O ala-pivô Tim Soares, além de Caboclo e Yago, foi o único brasileiro a terminar o torneio com um +/- positivo (8,0), atuando por 19,6 minutos (sexta maior marca da seleção). O jogador, que teve passagem pelo college norte-americano e joga atualmente no Japão, foi um desafogo  confiável ofensivo, de mais de uma parte da quadra, para Caboclo e Yago.

Tirando Marcelinho Huertas (40) e Vitor Benite (33), os demais jogadores têm 31 anos ou menos e certamente possuem grandes chances de disputarem o pré-olímpico. Dos dez, sete têm 28 anos ou menos e podem fazer parte do ciclo olímpico de 2028. Porém, dos sete, somente Yago (24) e Gui Santos (21), têm 25 anos ou menos, mostrando o grande obstáculo histórico da seleção: o basquete nas categorias de base e o desenvolvimento de atletas.

Esses dois temais esbarram em uma entidade, a Confederação Brasileira de Basketball (CBB). Em junho, a CBB retirou a “chancela” sobre as competições organizadas pela Liga Nacional de Basquete (LNB), como são os casos do NBB (Novo Basquete Brasil) e da LDB (Liga de Desenvolvimento de Basquete). Em atrito com a liga, as ações da confederação respingaram nos clubes que, nesta segunda-feira (4), não viram representantes anunciados pela FIBA para a disputa da Liga Sul-Americana de Basquete.

A retirada de apoio à LDB, principal liga de desenvolvimento do basquete masculino no país, é só uma camada da falta de investimento na base pela confederação, que concentra seus recursos no adulto. Sem uma base forte, não há como formar uma seleção adulta forte no futuro, a equação é simples. Em junho, a seleção brasileira, tida como uma seleção top 5 da competição, foi eliminada da Copa do Mundo masculina sub-19 nas oitavas de final pela Argentina, um time claramente pior que o brasileiro, revelando problemas das categorias basais que não são só táticos ou físicos, mas técnicos em aspectos mais profundos e emocionais, características, ou defeitos, que depois aparecem, ou permanecem, no adulto.

Com a bagunça atual entre CBB e LNB, é difícil virar para um jovem promissor jogador brasileiro e bater o pé para que ele fique e se desenvolva pelas águas revoltas daqui. A partida para os Estados Unidos e para a Europa é natural, mas ela está sendo feita da melhor maneira para os envolvidos? Reynan dos Santos e Samis Calderón, dois grandes prospectos do país e que tiveram destaque na seleção sub-19, decidiram desenvolver seu jogo na liga Overtime Elite, nos EUA. Esse é o melhor caminho para o desenvolvimento do basquete em comparação a ir ao college do país (como Du Klafke e Lucas Atauri, outros bons prospectos, farão) para um campeonato europeu?

São muitas questões, que passam por diferentes níveis, a conversa é bastante extensa, mas uma coisa é comum: os envolvidos precisam andar na mesma direção e ela é a do melhor para o basquete brasileiro, a do desenvolvimento de jogadores, treinadores e fortalecimento dos clubes, principalmente na formação das pessoas e dos atletas quando muito jovens.

(Foto 1: Reprodução / FIBA.com; Foto 2: Reprodução Twitter / Basquete CBB)

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